Crueldade no mundo espiritual? No yoga?

07-02-2024

Crueldade no mundo espiritual? Crueldade no yoga? A ideia linear, assertiva e opinião pessoal influencia o outro? De que forma? Diminuindo? Ou expandido? De que forma acredito na minha opinião? Se a vida é o centro da existência, a minha opinião tem por intuito diminuir a existência do outro em prol de não se equiparar à minha vivência pessoal?

A minha resposta pode fugir um pouco a estas questões mas decerto trouxe-me uma reflexão sobre como não quero deixar de agir e/ou agir sobre algo. Da forma como me quero mostrar em opinião sobre determinado assunto.

Hoje deparei-me com uma professora de yoga que me questionou acerca da modalidade de yoga que vinha a estudar em que consistia ao certo, quantos estilos abrangia e qual o tempo de duração para tal. Ao que respondi ano e meio com algumas componentes de especialização de multiestilos. Eu senti que fora uma abordagem vagamente critica em relação à forma como ela via esta disposição de tempo e que proferiu de facto se sentir surpresa e quase que indignada com a minha resposta, embora não o tenha verbalizado. Em adição, a mesma proferiu que já era professora há mais de vinte anos, inclusive tendo realizado formação em Portugal Continental, no Porto em específico, que tinha visitado e morado uns anos na Índia entre alguns outros anos num país do qual não me recordo o nome.

Em complemento ao dito expôs também a sua opinião acerca do tempo no qual o curso era dinamizado, referindo que seria necessário pelo menos três anos para a aprendizagem de cada especialização.

Curioso que o número três é bastante utilizado e quase que de forma inconsciente associamos o três bastante à realização e finalização de estudos profissionais. Não percebi se foi uma resposta pensada ou se apenas falada. No entanto, não acho que três anos seriam o suficiente! Aliás nem sei se três vidas o seriam.

Em adição ao anteriormente expressado pela mesma, foi também manifestado o desapontamento da forma como o estudo de yoga está a ser dinamizado em Portugal. Em forma de resposta e vivência pessoal eu tive e tenho a sorte de não ter caído neste desapontamento. Por ter ao meu lado uma incrível professora, uma mulher, uma mãe, uma pessoa, um ser humano, humilde para consigo, com os outros e para com a verdade e respeito que tem sobre o yoga e em especial para consigo própria.

Em parte concordo com este desapontamento no sentido do que assisto, em especial nas mídias sociais, acerca da forma como estão a vender o conteúdo de yoga nos dias que correm, na sociedade capitalista da qual fazemos parte como algo do género: maior valor, menos esforço, menos tempo. Sinto, com pesar, que o mundo do yoga está a ser vendido como algo místico, cómodo e com promessas e propostas de felicidade absolutamente garantidas e não como algo duvidoso, confrontamento sedutor com crenças pessoais, medos, capacidades, limites, opiniões.

Em resposta às questões quero com isto dizer que me senti confrontada com a opinião do outro e ainda mais confrontada com o facto de não me ter feito expressar verbalmente no imediato. E ainda bem que assim foi, porque deu-me um espaço e tempo para refletir sobre. Refletir sobre a crueldade que assisto de professores de yoga para com os seus colegas, de professores de yoga que não o exercem no seu âmbito pessoal. Dou por mim a ter sorte e prazer de assistir a este yoga em tantas pessoas que me circundam sem sequer terem experenciado uma postura física e terem um contacto de perto. Dou por mim a ter a sorte de os ver exercer a real postura sobre.

Em conclusão ao início do parágrafo anterior gosto bem mais de interiorizar e assimilar o que outro me diz. Gosto que aquilo que o outro me diga não vaia ao encontro àquilo que quero ouvir, porque assim consigo direcionar-me a um questionamento sobre aquilo que o outro me disse em especial sobre como me relaciono àquilo que foi dito.

Ora bem! Uma vez mais assisto a um mundo, em específico do yoga, nada "espiritual". Sinto uma crueldade, julgamento, supressão do outro pela invalidação da minha experiência pessoal enquanto indivíduo: único, diferente e próprio. Sinto uma crueldade no sentido de competição de valores e conhecimentos, como se anulasse o conhecimento que tenho, inclusive o próprio.

É triste assistir a esta crueldade entre professores anulando a ideia de que o outro não é tão importante quanto eu. Que apesar de não ter tido o mesmo percurso que eu, não o torna menos importante. Se quero ir para Índia, viver, correr o mundo? Provavelmente sim, mas quero antes sentir que quero tudo isto! Se ir à Índia fará de mim professora de yoga? Obviamente que não. Decerto fara de mim uma nova pessoa tanto quantos outros lugares, viagens, pessoas e vivências mo fazem.

Neste centro da vida são as pessoas quem me permitem exercer naquilo que sou. Serão as pessoas os meus alunos. Serei eu a sua sempre estudiosa. Serão as partilhas das mesmas que me trarão acréscimo à minha pessoa.

A palavra, a forma como dizemos algo, como utilizamos o conteúdo é também sentida sem sequer o vocabulário ter sido utilizado. Para mim o yoga é esta palavra que conduz a um silêncio onde tudo se questiona, onde tudo acontece e deixa de acontecer.

Eu posso não estar no "grau" de conhecimento em que o outro está, mas isto não invalida o facto de estar no "grau" em que estou. Aliás, não quero ir por esta grandeza espiritual que assistimos e/ou criamos a ideia sobre. Até porque nunca a senti no decorrer da minha formação.

Eu não sou menos por saber apenas o que sei; eu não sou menos por procurar agradar-me e fazer-me feliz em primeiro lugar ao invés dos restantes; eu não sou menos por não corresponder aos ideais pessoais de alguém; eu não sou menos por ser e manifestar ser eu própria.

Eu sou menos se me sobrepor da elevação que alcancei aquando de mim mesma para diminuir o outro; eu sou menos se for cruel; eu sou menos se trouxer à minha existência competitividade querendo correr à frente de mim mesma para alcançar alguém que já lá esteja; eu sou menos se não respeitar os meus processos, causas e consequências; eu sou menos se não quiser sentir; eu sou menos achando que sou algo mais em anulação que o outro também o é.

"Eu sou apenas uma voz discreta que recorda, na sombra, as realidades importantes." Jo 1,6-8.19-28

Eu não preciso de crescer em prol de não beneficiar o outro. Eu posso crescer sem competir com outro. Eu não preciso de crescer incapacitando, desvalorizando o percurso e conhecimento do outro. Para crescermos não precisamos de exercer nas propostas politicamente corretas das pessoas "in" que aparecem no contexto social e que ditam o que está certo ou errado, à luz dos critérios de moda do mundo.

Percebi que em tempos havia um desconforto e medo maior, ao que existe hoje, em querer exercer no âmbito do yoga porque me iria deparar com uma realidade na qual existe profissionais bem mais experientes do que eu. Hoje percebi que curiosamente ainda me espanto com o conhecimento que vejo que o outro me traz e disponibiliza. Percebi ainda mais que conhecimento tenho sobre mim mesma e de que forma quero exercer, expandir, vivenciar e transmitir o yoga.

REFLEXÃO I YOGA I POESIA I CULINÁRIA 
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