Todo o vir a ser é desintegração 

13-03-2024

"O ideal é uma projeção do que é, apenas com um nome diferente" - O Livro da Vida, J.Krishnamurti  

A mente cria uma ideia agradável daquilo que nos somos ou que pelo menos acreditamos ser como algo ideal de nós mesmos. No entanto, é este agradável e ideal uma projeção do nosso desejo e por vezes da nossa ilusão em querer algo que seja diferente daquilo que já somos. 

Nós lutamos para ser aquilo que não nos agrada sem sequer nos vermos como algo que já nos é agradável. Ou seja, a luta é uma constante entre que não me agrada, e que sou, e aquilo que me agrada, e que também sou. É confuso sim! Mas se observarmos bem é entre esta dualidade de opostos de ser e querer ser algo, que nos confrontamos com os episódios da vida seja no âmbito familiar, profissional, social e económico. 

Maioritariamente e de forma intencional nós procuramos um oposto àquilo que somos através da auto projeção de um ideal concebido na nossa mente. De que forma eu idealizo um agradável diferente daquele que sou? Em que áreas da minha vida tento corresponder a algo que me seja externo? Em relações consigo ser eu mesmo/a isento/a desta pressão? 

Se eu me projeto na sociedade como modo de corresponder a um agrado oposto seria eu levar a extensão daquilo que já sou, daquilo que é. Com este reconhecimento deixaríamos de lutar para vir a ser algo, sendo que este algo faz parte de nós mesmos. 

Lutamos ou não para conseguir alcançar a nossa projeção, que ao fim e ao cabo é a projeção de algo ideal e ilusoriamente irreal? 

Sem analisarmos o que é o ideal para nós, lutamos através das nossas ações, palavras, pensamentos em perseguição da aniquilação da nossa própria sombra. Se eu já sou "sombra" e me sei sendo e existindo enquanto elemento conjunto "sombra e luz" o que procuro mais em querer perseguir? O que procuro mais através da minha própria projeção? 

Quando lutamos em correspondência a uma ilusão geramos uma desintegração daquilo que já é. Quando temos "consciência desta partida da mente então existe apenas o que é. Se analisarmos bem, quando a mente se desprende de todos os ideais, daquilo que tem que vir a ser, da comparação, da condenação e culpa, e quando reconhecer que a própria estrutura de auto projeção, de ilusão, de querer ser aquilo que não é, então o que é: Eu não separado, sofre uma transformação completa." 

O facto de darmos nome a algo que não aquilo que somos, mas queremos ser e que seja cria uma desintegração de quem somos. Ao invés se eu reconhecer esse algo como algo que só por ser já é, eu não me desvinculo e desintegro daquilo que já sou, daquilo que é. 

Está tudo em nós. Está tudo dentro de nós. Este algo já é meu quando eu sei que não tenho que projetar, categorizar e rotular face a um algo externo e ilusório. 

"Enquanto dermos nome ao que é, existe uma relação entre a mente e o que é/ mas quando este processo de dar nome - que é memória, que é a própria estrutura da mente - deixa de existir, então o que é também deixa de existir. Só nesta transformação à integração".

Se eu abandono o julgamento e o condicionamento interno, oriundo de projeções externas, crenças, ideias, eu deixo de dar nome ao que é. Aqui a minha mente desvincula-se da ideia de que para ser é necessário desintegrar. Observando uma vez mais que o que é também deixa de existir e que neste processo todo o vir a ser é desintegração e todo O Sou é integração: porque eu possuo em toda a minha constituição o que sou, já sendo, já o querendo ser. 

* Desanexação/Desintegração: Separação ou aniquilamento de coesão. Verbo transitivo: separar de um todo 

Escrita inspirada e retirada em parte de texto do livro da vida de J.Krishnamurti

REFLEXÃO I YOGA I POESIA I CULINÁRIA 
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