Conversão e yoga?

21-05-2024

Precisamos normalizar que nós professores de yoga também somos humanos. Que nós professores não somos todos terapeutas. Que nós professores temos carreiras profissionais na sua maioria que ocorre para além desta carreira de se ser professor. Precisamos normalizar que também nós temos sentimentos e que por vezes lidar conosco próprios é tão desafiante o quanto vocês lidam convosco. Precisamos de trazer verdade e contexto àquilo que se preconiza nos dias de hoje e que por muitas vezes me faz questionar sobre a conversão e desintegração que tanto observo para com esta forma de se querer estar e conhecer que é o yoga.

Andaremos nós a lutar para uma conversão? Para uma conversão a partir da qual o outro somente será aceite e bem visto se praticar tremenda mudança? Assisto cada vez mais a um mundo desvirtualizado em que o não ser e corresponder a determinada pressão social e apenas ser em individualidade se está a tornar insuficiente. Em que o básico, este que carece de profundo entendimento nosso, é a forma menos completa de existência, abraçando a inúmeras vendas e propostas iludidas de felicidade garantida e equilíbrio absoluto. A um mundo que reside na pressa e urgência das coisas como sinónimo de pertença, utilidade e intensidade. A um mundo que procura residir fora de si por tanto querer procurar que o externo o preencha e lhe faça sentido. 

Assistimos a uma imensa urgência de nos querermos converter em algo pois somente nos sentimos encaixar em tantas outras coisas que não a própria vontade interna. E com isto, também todo o yoga está a estremecer e perder o verdadeiro sentido daquilo que é por quererem fazer dele uma conversão e reinventá-lo a toda a força como se toda a sua complexidade de ser integro fosse possível dessa mesma conversão. Ando triste com todo este forçar de conversão que observo.

O yoga não é uma venda de promessas garantidas de equilíbrio absoluto nem de estabilidade continua. É outrora uma coragem na presença de parar e observar. Uma presença que exige de nós um ato de cuidado e amorosidade seja para conosco e para aquilo que nos envolve. O yoga não é uma venda de retiros de procura de propósitos de vida, quando todos estes são tão mutáveis quanto as mudanças que ocorrem entre o nascer e o recolher de um dia. O yoga não é uma venda de terapia e anulação de aconselhamento médico e prescrição de medicação quando necessário. O yoga não é uma venda de roupas desportistas despidas de significado e ausência de sentir. O yoga não é ausência de opinião é a disciplina sobre o discernimento que exerço. O yoga não é nada disto e ainda assim há quem ache que ele seja. Porquê? Por insistência de convertermos que o mesmo seja algo para além daquilo que ele próprio já o é. Nós temos o direito de acolher o outro sendo o que é e da forma como o é, assim como nós individualmente também gostamos que aconteça. Mas também nós temos o direito de não compactuar com a conversão de uma natureza cuja a própria é isenta da utilidade de conversão. 

Através da presença harmoniosa estabelecemos um elo de ligação entre as nossas emoções, pois o yoga devolve-nos este silêncio quando sentimos que toda a estabilidade, que outrora pensávamos dominar e controlar, é possível de mudança e oscilação. Regressar a este silêncio é também questionarmo-nos sobre o porquê de toda esta alternância estar a suceder e qual a sua origem. É querer compreender que estou triste porque a tristeza de mim faz parte, que estou confusa porque a confusão de mim faz parte, que estou frustrada porque a raiva de mim faz parte, que estou agradecida porque a gratidão de mim faz parte, que estou feliz porque a felicidade de mim faz parte, que estou ansiosa porque as preocupações de mim fazem parte. O yoga convida-nos a acolher e aceitar tudo o que de nós faz parte excluindo a ideia de conversão. 


REFLEXÃO I YOGA I POESIA I CULINÁRIA 
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora